Querida Emma,
Ela…
Ela sempre fora calma.
Ele…
Ele já não é o que era.
Sentada num banco do jardim, respirava fundo, para tentar controlar a sua respiração. Algo lhe afectara o seu temperamento.
Descontrolado, transpirava raiva e ódio.
Deslocava a atenção daqueles que passavam por aquele banco do jardim: estava coberta de ouro e espalhava a sua beleza exaltada. Ela era sem dúvida razão suficiente para despertar o sentimento incontrolável da inveja.
Caminhava apressado pelas ruas apertadas da vila quando algo deteve a sua atenção.
Olhava os outros com inveja, quando sabia que era ela a invejada. Ela era o sonho de todos, mas sonhava em ser a realidade de cada um. As exigências que lhe eram impostas levaram-na à exaustão, fizeram dela prisioneira, apenas porque fora amaldiçoada com o dom da beleza. Num suspiro desejou ser fugitiva. Desejou traçar liberdade além fronteiras. Desejou poder respirar sem ter prévia autorização. Desejou sentir o seu coração a bombear o sangue para as suas veias. Desejou sentir que tinha pulsação, e que não era apenas o trapo que se sentia.
Uma lata de Coca-Cola desencadeou nele uma fúria incontrolável. As veias da sua testa ficaram salientes ao lembrar toda a aversão ao que presenteou na noite passada.
Noite anterior tudo tinha mudado. Agora, ali sentada, a brisa relembrava-lhe que tinha os olhos a arder por ter chorado a noite toda.
Uma simples garrafa de Coca-Cola, fora o desejo da sua esposa. Como podia ele dizer “não” a um inocente pedido? Com os trocos que ganhou como recompensa no trabalho, saiu da casa para ir satisfazer o seu desejo. Felizmente a mercearia ao lado já tinha reaberto das obras, por isso demorou menos do que estava a espera. Feliz porque ia contar à pessoa que mais amava que finalmente tinha sido promovido, e que assim já lhe poderia proporcionar uma vida mais confortável, abriu energicamente a porta.
Como era possível sentir-se asquerosamente usada, manipulada e enganada. Confiara e deixara entrar um homem na sua vida que lhe deu tudo: promessas, sonhos, ouro, conforto e uma vida de escrava. Dama de companhia era o seu nome socialmente aceite, mas sentia-se um trapo nas mãos daquele homem que fez da sua vida e da vida de outras raparigas uma verdadeira escravatura.
A sua visão fora desastrosa. Impossível até. Nunca tinha imaginado ver a sua mulher enrolada nos braços do seu patrão. E o que mais lhe custou foi ver que os seus olhos transpareciam a felicidade que nunca tinha visto quando ela olhava para ele. Tudo aquilo que acreditava desfalecia à frente dos seus olhos. O amor-próprio estava desvanecido e o repudio em crescente. Fechou a porta atrás de si, e jurou que a sua visão resumia apenas memórias do passado.
Mas no inferno do cativeiro, surge um clarão de luz que a atira de novo para os braços do sonho da liberdade.
Ele desprezava os rostos que condenavam o seu aspecto. A decência fora-lhe roubada, e só lhe restava a decadência que usava para deambular pelas ruas.
Ela correu, correu o mais que pôde. Correu deixando cair as lágrimas que lhe lavavam a alma do pecado. Correu até cair de exaustão na calçada.
Algo envolvido em trapos prendera a sua atenção. Como era possível existir uma criatura ensanguentada capaz de exaltar mais decadência que ele próprio? Pressentiu alguém a ajoelhar-se e a limpar-lhe o que pensava ser lágrimas. Sentiu o seu toque.
Ali, diante dos seus olhos, e envolvida nos seus brancos estava a criatura mais esbelta que ele alguma vez vira.
(…)
Fechou os olhos. Queria sentir de novo aquele toque. Foi isso que a trouxe aquele banco de jardim. Olhou para si. A bondade e gentileza proporcionaram – lhe o necessário. Cama, comida, banho e roupa. Mas algo ainda a prendia ao passado. Libertou do seu corpo o peso pesado do ouro que lhe vincava a pele e escondiam as cicatrizes da vida de dama.
A visão da rapariga era mais intensa e importante que a da lata de Coca-Cola que ainda estava diante dos seus olhos. Chutou-a para longe expulsando todas as recordações enraivecidas. Tinha alguém para reencontrar.
Sentada naquele banco de jardim, rodeada de paz, sorriu.
Lá estava ela. Calma e serena. O coração palpitava-lhe das mãos quando ele a tocou.
Quando ela o sentiu, fechou os olhos e desejou que durasse para sempre. O seu sangue foi bombardeado mais forte que nunca. Sentiu-se finalmente livre de si.
Ela sempre fora calma.
Ele…
Ele já não é o que era.
Sentada num banco do jardim, respirava fundo, para tentar controlar a sua respiração. Algo lhe afectara o seu temperamento.
Descontrolado, transpirava raiva e ódio.
Deslocava a atenção daqueles que passavam por aquele banco do jardim: estava coberta de ouro e espalhava a sua beleza exaltada. Ela era sem dúvida razão suficiente para despertar o sentimento incontrolável da inveja.
Caminhava apressado pelas ruas apertadas da vila quando algo deteve a sua atenção.
Olhava os outros com inveja, quando sabia que era ela a invejada. Ela era o sonho de todos, mas sonhava em ser a realidade de cada um. As exigências que lhe eram impostas levaram-na à exaustão, fizeram dela prisioneira, apenas porque fora amaldiçoada com o dom da beleza. Num suspiro desejou ser fugitiva. Desejou traçar liberdade além fronteiras. Desejou poder respirar sem ter prévia autorização. Desejou sentir o seu coração a bombear o sangue para as suas veias. Desejou sentir que tinha pulsação, e que não era apenas o trapo que se sentia.
Uma lata de Coca-Cola desencadeou nele uma fúria incontrolável. As veias da sua testa ficaram salientes ao lembrar toda a aversão ao que presenteou na noite passada.
Noite anterior tudo tinha mudado. Agora, ali sentada, a brisa relembrava-lhe que tinha os olhos a arder por ter chorado a noite toda.
Uma simples garrafa de Coca-Cola, fora o desejo da sua esposa. Como podia ele dizer “não” a um inocente pedido? Com os trocos que ganhou como recompensa no trabalho, saiu da casa para ir satisfazer o seu desejo. Felizmente a mercearia ao lado já tinha reaberto das obras, por isso demorou menos do que estava a espera. Feliz porque ia contar à pessoa que mais amava que finalmente tinha sido promovido, e que assim já lhe poderia proporcionar uma vida mais confortável, abriu energicamente a porta.
Como era possível sentir-se asquerosamente usada, manipulada e enganada. Confiara e deixara entrar um homem na sua vida que lhe deu tudo: promessas, sonhos, ouro, conforto e uma vida de escrava. Dama de companhia era o seu nome socialmente aceite, mas sentia-se um trapo nas mãos daquele homem que fez da sua vida e da vida de outras raparigas uma verdadeira escravatura.
A sua visão fora desastrosa. Impossível até. Nunca tinha imaginado ver a sua mulher enrolada nos braços do seu patrão. E o que mais lhe custou foi ver que os seus olhos transpareciam a felicidade que nunca tinha visto quando ela olhava para ele. Tudo aquilo que acreditava desfalecia à frente dos seus olhos. O amor-próprio estava desvanecido e o repudio em crescente. Fechou a porta atrás de si, e jurou que a sua visão resumia apenas memórias do passado.
Mas no inferno do cativeiro, surge um clarão de luz que a atira de novo para os braços do sonho da liberdade.
Ele desprezava os rostos que condenavam o seu aspecto. A decência fora-lhe roubada, e só lhe restava a decadência que usava para deambular pelas ruas.
Ela correu, correu o mais que pôde. Correu deixando cair as lágrimas que lhe lavavam a alma do pecado. Correu até cair de exaustão na calçada.
Algo envolvido em trapos prendera a sua atenção. Como era possível existir uma criatura ensanguentada capaz de exaltar mais decadência que ele próprio? Pressentiu alguém a ajoelhar-se e a limpar-lhe o que pensava ser lágrimas. Sentiu o seu toque.
Ali, diante dos seus olhos, e envolvida nos seus brancos estava a criatura mais esbelta que ele alguma vez vira.
(…)
Fechou os olhos. Queria sentir de novo aquele toque. Foi isso que a trouxe aquele banco de jardim. Olhou para si. A bondade e gentileza proporcionaram – lhe o necessário. Cama, comida, banho e roupa. Mas algo ainda a prendia ao passado. Libertou do seu corpo o peso pesado do ouro que lhe vincava a pele e escondiam as cicatrizes da vida de dama.
A visão da rapariga era mais intensa e importante que a da lata de Coca-Cola que ainda estava diante dos seus olhos. Chutou-a para longe expulsando todas as recordações enraivecidas. Tinha alguém para reencontrar.
Sentada naquele banco de jardim, rodeada de paz, sorriu.
Lá estava ela. Calma e serena. O coração palpitava-lhe das mãos quando ele a tocou.
Quando ela o sentiu, fechou os olhos e desejou que durasse para sempre. O seu sangue foi bombardeado mais forte que nunca. Sentiu-se finalmente livre de si.
Uma aura de penumbra envolveu-os: encontraram um no outro aquilo que mais ambicionavam: ainda que ilusória, a felicidade.
Too much love,
Brooke
p.s - escrito por Mariana Rodrigues
3 comentários:
Diz a essa Mariana que o que quer que a tenha levado a escrever isto não é divinal, é antes medonho e freneticamente usado no dia-a-dia.
Y ayudala a encontrar lo que le hace falta, aún que te paresca inofensiva, esa chica hace muy mejor que esto
decididamente falta mão masculina neste blog. se quiserem uma contactem (não sei se leva 'c' antes do 't' com esta história do acordo) p.v.projecto
Enviar um comentário